A paisagem tem cores do avêsso
E as estrelas sobem pelas montanhas como veias
Aguando um seio de mulher.
As quatro línguas do vento
Conversam sobre o amor, o ódio, a vida e a morte.
Os arcanjos cruzam o firmamento de lado a lado,
Os pássaros soluçam como inconsoláveis viúvas.
Os peixes cantam como rouxinóis nas ramas floridas.
Um sirena lamenta-se no corte da noite
E o ruído de possantes motores trepidam o eixo universal
Como o nascimento de um vulcão.
As flores dos jardins cercados são orvalhadas como lágrimas inocentes
E da lua de São Jorge montado no seu cavalo branco
Para velar os mortos e os desesperados.
Um sentimento de pureza sobre o olhar dos arrependidos,
As mães alimentam seus filhos com flores,
Os amantes realizam a interpenetração das almas
E seus corações caem no chão como punhados de cinza.
A tragédia vive entre a boca dos velhos e o olhar do recém-nascido
E o choro do que um dia será assassino é ouvido ao ventre da noite.
O poeta escreve poemas no solo
E a terra grávida recompensa com flores, frutos e nascentes.
Na hora da penumbra abre-se uma grande boca no firmamento
Dizendo sobre o juízo final.
Sob a luz da lua o poeta colhe os lírios entreabertos
E sai guarnecendo sepulturas de noivas ignoradas.
Um resplandecente globo ocular
Desce sobre a paisagem
E procura encontra a Amada e a Morte.
Adalgisa Nery
In Mundos Oscilantes
foto Carla Cordeiro
Um eu ficou no mar
aprisionado
E deixou-me por pés as
nadadeiras;
Outro ficou nas nuvens
caminheiras,
Por isso bato os braços no
ar parado.
Um eu partiu menino
ensimesmado
E ofertou-me palavras
verdadeiras,
Outro amou suas sombras
companheiras,
Outro foi só, e um outro de
cansado
Caminhou pelos becos. Há
também
Aqueles que ficaram na
poesia,
Nos bares, na rotina, o eu
do bem,
Do mal, o herói, o trágico,
o esquecido.
Eu gerado por mim na
liturgia
De um todo para tantos
dividido!
Paulo Bomfim
In Veredas da Língua Blogspot
tela Duy huyhn
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