sexta-feira, 8 de julho de 2011

Casa de Monet, em Giverny, que começou pintando caricaturas e foi pioneiro do Impressionismo (foto: Dayse Regina Ferreira)
As novelas brasileiras têm sido uma boa promoção para destinos turísticos de cidades e países. “Viver a Vida” colocou na lista de viagens de muitos, os mistérios e belezas da Jordânia ( que agora tem até representante do turismo oficial no Brasil, a Interamerican, em São Paulo) e de Paris e arredores. Uma das cenas de final feliz aconteceu nos jardins da casa de Monet, agora um dos roteiros preferidos dos turistas brasileiros.
É preciso reservar um dia inteiro para conhecer a casa e os magníficos jardins do artista, cujos quadros principais estão junto com as coleções dos mestres impressionistas – Pissaro, Cézanne, Van Gogh — nos museus do mundo todo. Principalmente no museu d’ Orsay em Paris (França) e no maior acervo do Impressionismo, no Ermitage de São Petersburgo (Rússia).


Foi em 1883 que Claude Monet alugou uma vila em Giverny, onde viveu e trabalhou até sua morte, aos 86 anos. A casa, hoje Fondation Claude Monet, se transformou em um museu particular, aberto ao público (com entrada paga: 6 euros para adultos). Os ambientes da casa foram conservados, inclusive as cores das paredes originais, escolhidas por ele. É das janelas do quarto e da sala-escritório, que Monet apreciava os famosos jardins, tema recorrente de seus quadros. Na casa ficaram cópias de seus quadros, mas vários originais dos séculos 19 e 20 podem ser apreciados no Musée d’Art Américain Giverny, nas proximidades da propriedade.
Quem quiser ver as Catedrais de Monet, vai ter que ir até o Musée d’ Orsay. Na última década do século 19, Monet pintou cerca de 30 quadros tendo como tema a catedral de Rouen e muitos deles estão expostos no museu parisiense. Nesses quadros, estudou os efeitos da mudança da luz sobre as fachadas da igreja, dando destaque mais ‘a cor do que ao desenho .
Monet costumava descer ao jardim ‘as seis horas da manhã, porque é nas primeiras horas que a vida é mais bonita, “ quando o azul da noite se transforma em rosa”, como dizia o pintor. Georges Truffat escreveu na revista Jardinage, em novembro de 1924, que “ a obra mais bela de Claude Monet, a que ele saboreava com volúpia durante quarenta anos e que deu a ele as maiores alegrias” foi o jardim, hoje motivo de turismo de quem gosta do que é bom e bonito.
Mas é preciso saber que o jardim atual é obra de uma paixão que já dura trinta e cinco anos, de Gilbert Vahé. Quando o jardineiro chegou ‘a propriedade, em 1977, o mestre do impressionismo já havia morrido há meio século. E do jardim não existia mais nada. Tudo estava transformado em floresta virgem. A ponte tinha desabado, as glicíneas sem apoio jaziam por terra, o jardim d’água, devastado. O trabalho de refazer o jardim durou dez anos e foi feito mais por instinto, do que por certezas. Foram interrogados os descendentes do pintor, seus amigos, pesquisados fotos e quadros, encontradas pistas em cartas. A estufa, as paredes, tudo foi destruído por bombas durante a guerra. Teto e vigas estragaram, a escada ruiu. Dentro do estúdio cresceram três árvores . O lago teve que ser cavado novamente e o Clos Normand teve o solo removido, para ficar na altura original.O jardim d’água foi mais fácil de recompor e é lá que os visitantes fazem pose para fotos. Plantas e flores foram novamente cultivadas e graças ‘a generosidade de doadores, a maioria de americanos, a casa foi reconstruída e os antigos móveis restaurados. É preciso lembrar que na época foi fundada uma colônia de pintores americanos que, durante trinta anos, recebeu mais de cem artistas influenciados por Monet, mas sem muito contato com ele. A propriedade abriu ao público em 1980.


O enigma é sempre o “clos normand”, com seus 9.175 metros quadrados, em frente ‘a casa. As cores mudam constantemente, conforme a luz do dia, a paisagem se transforma a cada estação. É uma espécie de palheta do pintor. Tudo começa em abril, com as tulipas de 30 centímetros de altura e chegam ao outono com plantas de 3,50 metros. As flores passam do azul forte ao amarelo, do claro ao escuro, do rasteiro ‘as trepadeiras. Uma grande ala com arcos de ferro fica coberta de verdes e cores nas rosas trepadeiras, fazendo caminho até a entrada da casa. Uma foto de Monet na ala de 53 metros, mostra capuchinhos no chão e girassóis acima do pintor, na perfeita relação com a natureza. Monet preferia plantar as flores de vida curta, que é preciso renovar a cada três semanas, do que aquelas que duram meses, como as que enfeitam todos os jardins franceses.Assim, a paisagem é sempre outra, as cores mudam constantemente.

UMA VIDA DEDICADA AO JARDIM
O jardineiro que passou quase uma vida cuidando das plantas de Giverny,está arrumando as malas para a aposentadoria. Difícil tarefa para seu sucessor será conservar a alma do jardim de Monet. Diferentemente dos jardins de Versailles ou Vaux-le-Vicomte, cujos desenhos estão guardados em arquivos desde que foram criados por Le Nôtre, o jardim do pintor impressionista será sempre a obra de Gilbert Vahé. Que, antes de ser jardineiro, era pintor.
O curador de sua obra foi Gérald Van der Kemp, na época chefe dos conservadores no castelo de Versalhes, que abandonou a região do Rei Sol, para ressuscitar Giverny. O jardineiro e o amante das artes e da pintura, foram até convidados a criar dois jardins no Japão, dedicados a Monet, tal o entrosamento entre os dois.

GIVERNY NEOLÍTICA
Portão de entrada para a Normandia, Giverny fica a 75 quilômetros de Paris e a 60 quilômetros de Rouen, na margem direita do Sena, na confluência com um dos braços do rio Epte. O origem da vila é muito antiga, tendo sido habitada desde os povos neolíticos. Há vestígios galo-romanos, descobertos em 1838. Foi na época dos merovíngios que começaram a ser plantadas as primeiras videiras. Giverny só ganhou fama e prestígio depois que Monet descobriu a região, olhando pela janela de um trem, cuja linha não existe mais e cujos trilhos passavam pela sua propriedade. Gostou tanto da paisagem, que alugou uma casa e foi nela morar com sua companheira Alice Hoschedé, os dois filhos do pintor e os seis filhos de Alice. Na época eram apenas 300 os habitantes da região, a maioria fazendeiros. A vila é formada ainda hoje por duas ruas e a casa de Monet fica entre as duas. A propriedade foi adquirida em 1890, quando o pintor transformou toda a paisagem ao seu gosto. O “Clos Normand”, em frente ‘a residência, recebeu 100 mil plantas que são trocadas a cada ano e outros 100 mil plantas perenes, motivo de seus quadros. Dez anos depois, Monet comprou o terreno do vizinho e outro terreno pertencente ‘a linha férrea. Um riacho – o Ru – foi aumentado, com a ajuda da prefeitura local, formando a paisagem de água. Na época, os vizinhos reclamaram, achando que as plantas iriam envenenar a fonte. Mas tudo passa com o tempo e Monet até ampliou a paisagem cheia de curvas e assimetrias, inspirado em um jardim japonês. Daí a famosa Ponte Japonesa. É lá que os turistas fazem pose para as fotos, próximos da plantação de bambus e vitórias régias que florescem durante todo o verão. Mesmo antes de pintar, Monet moldou a natureza. Assim, criou suas obras duas vezes. Durante 20 anos, fez do jardim de águas sua inspiração maior. Depois da série da Ponte Japonesa, dedicou-se ‘as gigantescas pinturas da Orangerie. Sempre procurando transparências, pintou as flores e seus reflexos na água, invertendo o mundo, transfigurado pelo elemento líquido. Monet também ampliou a casa em ambos os lados, fazendo o prédio que se vê hoje, com quarenta metros de comprimento e cinco de largura. O celeiro ao lado foi transformado em estúdio, embora sempre preferisse pintar ao ar livre. Mas era preciso ter uma espaço para guardar telas e material de trabalho. Acima do estúdio, Monet tinha seu quarto e banheiro, separado do da mulher. Assim, todo o lado esquerdo da casa era seu mundo. A grande cozinha era onde se preparavam as refeições para a família de dez pessoas. É revestida com azulejos de Rouen em azul e branco,destacando uma coleção de panelas de cobre na parede. Um enorme fogão e uma lareira ajudavam a manter a cozinha e a sala de jantar aquecidas nos meses frios. Monet escolheu as cores rosa com verde na fachada, azul nos quartos e, na grande sala de jantar com móveis e paredes em amarelo, fez bom contraste com as porcelanas em azul e branco nos armários. As gravuras que cobrem as paredes são japonesas, e foram colecionadas durante cinqüenta anos. Levam assinaturas dos pintores Hokusai, Hiroshige e Utamaro.
O primeiro estúdio de Monet foi depois transformado em escritório e salão onde recebia visitantes, galeristas, críticos de arte, compradores e colecionadores. Os quadros que cobrem inteiramente as paredes, são cópias, cujos originais estão no Musée Marmottan-Monet, em Paris. Um busto de Claude Monet, assinado por Paul Paulin, lembra que o pintor foi famoso ainda em vida, embora tenha tido que esperar meio século para ser reconhecido como Mestre. Cézanne, Renoir, Pissarro, Sisley, Morisot, Manet, Signac , seus amigos, deixaram obras que decoram a sala.
A casa tem três entradas: a do lado esquerdo, era a entrada de Monet; a do meio é a principal e a do lado direito, era usado pelos serviçais.
Em 1908, com 68 anos, Monet teve catarata nos dois olhos, começando a perder a visão. Os primeiros sinais da doença podem ser notados nas pinturas de Veneza (1908). A catarata é uma opacidade do cristalino, que filtra as cores. Na medida que evolui, a doença transforma o branco em amarelado, os verdes ficam mais claros e os vermelhos, alaranjados. Os azuis e verdes são substituídos pelos vermelhos e amarelos. Os detalhes ficam esfumaçados, os contornos ficam fluídos. Mesmo com a visão alterada, Monet continuou a pintar. Resgatava as cores, usando a leitura das etiquetas dos tubos de tintas e também a ordem inalterada com que dispunha as cores na palheta. Vendo tudo como se fosse através de brumas, considerava que mesmo assim era possível exprimir o belo. As poucos, seus quadros ganharam a predominância do vermelho e do amarelo, com o azul e verde desaparecendo. Assim como na paisagem outonal da Europa. Alguns quadros representam bem essa fase, como Le Bassin aux Nymphées (1899) e Le Pont Japonais (1923), já de contornos imprecisos e sem detalhes. Em 1911 Monet ficou cego do olho direito e em 1914, começa pintar sem perspectiva. Em 1922 fica sem visão e aceita fazer, em 1923, duas operações na vista direita. Os resultados não foram muito bons e o pintor se nega a operar a outra vista. Mesmo assim, continua a pintar até perto de sua morte, em 1926. Depois de sua morte, é o filho Michel que herda a casa e o jardim. Nunca morou lá e foi a enteada Blanche quem se encarregou de tomar conta da propriedade. Depois da Segunda Guerra Mundial, a casa foi abandonada. Em 1977, Gérald van der Kemp foi nomeado curador de Giverny.
TURISMO GARANTIDO
Mais de 500 mil turistas descobrem o Jardim de Monet a cada ano, durante os sete meses em que a propriedade permanece aberta ao público, entre primeiro de abril e primeiro de novembro. Chorões, bambus, cerejeiras do Japão, macieiras japonesas, rododendros, azaléias, peônias, aguapantos, gerânios, rosas, glicínias, íris, tulipas, miosótis, junquilhos, papoulas, anêmonas, dálias, flor de maracujá, amor perfeito, margaridas, hortênsias são as atrações no jardim. No outono, tudo toma tons avermelhados, amarelados, laranja e marrom. Como se a natureza sofresse também de catarata, como o pintor no final de sua vida.

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"Minha teoria é simples. Meu sentir é exagerado. Me jogo, me lasco, me entrego, me esfolo inteira. Melhor do que viver pela metade. Amar pela metade. Acreditar pela metade. Pra tombo há remédio, há refazer. Pra sonho desperdiçado, não."




A SEMPRE UM RESTO DE PERFUME UM TRAÇO DE BELEZA ANTIGA...
a significação é invisivel, mas o invisivel não esta em contradição com o visivel .o visivel tem uma estrutura interna invisivel, e o invisivel é o contraponto secreto do visivel
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